BRASIL REFORMULA LISTA E MÉTODO NO ANTIDOPING
21/11/2009 15:49:37
Testes realizados no país agora irão seguir padrões estabelecidos pela Wada
Tabela atualizada com as substâncias proibidas será submetida hoje ao Conselho Nacional de Esporte e já deve vigorar no ano que vem
No fim de uma temporada marcada por escândalos no esporte brasileiro, a Comissão Nacional de Combate ao Doping já se mexe para 2010.
No início da semana, os membros da entidade se reuniram com os integrantes do Ministério do Esporte para definir algumas mudanças e apresentar reivindicações para melhorar o procedimento dos testes.
A primeira medida foi a formatação da lista de substâncias e métodos proibidos no país, que segue os padrões da Wada (Agência Mundial Antidoping) e será submetida hoje ao Conselho Nacional do Esporte.
O principal ponto será a análise e a inclusão de mais detalhes dos fatores de crescimento -substâncias produzidas naturalmente no organismo, mas que são trabalhadas em laboratório e podem ser utilizadas para alterar características dos músculos, vascularização, capacidade regenerativa e mudança do tipo de fibras- para acelerar o processo de recuperação ou melhorar a performance dos competidores.
A utilização de fatores de crescimento já foi detectada em alguns atletas, principalmente em equipes de futebol.
“Em uma cirurgia de joelho, por exemplo, pode ser retirado o sangue do atleta e consolidado para acelerar o ritmo da reabilitação. Isso já seria um método contra-indicado”, declarou Eduardo de Rose, médico presidente da comissão nacional.
“O hormônio GH [de crescimento], por exemplo, eles depuram e sintetizam, para aumentar o músculo. Antigamente, o procedimento não era considerado doping”, disse Fernando Solera, médico responsável pelo antidoping da Federação Paulista de Futebol.
Muitas vezes, os exames são feitos após uma denúncia anônima, como no maior caso de doping sistemático do atletismo do país, com cinco testes positivos para EPO, em junho.
“Em alguns casos, pode ser até um juiz ou um colega de trabalho que avisa”, disse Solera.
No Brasil, no entanto, os fatores de crescimento não são tão utilizados, até mesmo pela falta de conhecimento da tecnologia ou pelo alto custo.
“Agora, a gente tem recorrente a creatina, que era moda no exterior em 1996. As coisas aqui não são tão rápidas. Em geral, os atletas usam métodos ultrapassados”, contou Solera.
Entre as novidades da lista também estão a inclusão da pseudoefedrina e a liberação do estimulante salbutamol, com a declaração de uso de dose diária considerada terapêutica.
Feito o pedido da comissão na reunião, o ministério se prontificou a ajudar o Ladetec -único laboratório credenciado pela Wada no país- para receber as amostras dos testes sem precisar se submeter aos procedimentos da Anvisa.
Neste ano, o material colhido para exames ficou retido pela Anvisa por até duas semanas e perdeu a sua validade.
Tribunal pode utilizar legislação ultrapassada
O Brasil ainda tem em vigor duas legislações que permitem formas diferentes para se julgar um atleta flagrado no doping. De acordo com a Lei Pelé, o competidor pode no máximo ser suspenso por seis meses. Já o decreto-lei 6.653 de 18 de dezembro de 2008, que segue o regulamento internacional, prevê pena de dois anos. A Comissão Nacional Antidoping espera que o novo Código de Justiça Desportiva, que será avaliado pelo Conselho Nacional de Esporte no próximo dia 10 de dezembro, atualize as regras.
Exames serão publicados a partir de 2010
Uma das novidades no combate ao doping em 2010 no Brasil será a publicação de lista com todos os exames realizados no país.
No início de cada ano, serão consolidados e tornados públicos os dados dos testes da temporada anterior.
“Já vamos fechar a lista de 2009 com todos os números. Queremos saber se este é mesmo um ano recorde em casos de doping no Brasil”, disse Eduardo de Rose, presidente da Comissão Nacional de Combate ao Doping.
A lista não terá o nome dos atletas testados, mas contará com a sua modalidade e a substância que foi detectada.
“É preciso lembrar que se trata de um exame, e precisamos respeitar as regras de relação com o paciente”, disse o médico Fernando Solera.
Nos últimos anos, no Brasil, muitos casos positivos foram escondidos e até deixaram de ser julgados.
“Em alguns Estados do país, os exames são esquecidos”, afirmou Solera. “Você deve é perguntar para cada confederação sobre os anúncios”, argumentou De Rose.
A reportagem da Folha apurou que, em 2008, foram realizados 4.621 exames no laboratório Ladetec.
Destes, 25 tiveram resultados adversos -sendo 12 no futebol, cinco no automobilismo, três no vôlei, dois no atletismo, dois no futsal e um no halterofilismo.
Entre os casos que não se tornaram públicos, por exemplo, está o de um piloto de Stock Car flagrado em uma prova com maconha.
O laboratório brasileiro, porém, é dos um credenciados pela Wada (Agência Mundial Antidoping) que menos realiza exames.
Em 2008, por exemplo, só em Los Angeles, na Califórnia, os Estados Unidos fizeram 72.394 testes.
José Eduardo Martins
Folha de São Paulo