Medicina
Medicina do Esporte
Wagner Castropil – Médico da Seleção Brasileira de Judô / Instituto Vita (www.vita.org.br)
LUXAÇÃO DE COTOVELO
A luxação de cotovelo (deslocamento da articulação do cotovelo) é uma lesão freqüentemente encontrada nos lutadores de judô, seja por chaves de braço ou por quedas sobre o braço de forma inadequada.
O principal mecanismo é a queda sobre o braço ou punho com o cotovelo estendido, levando à uma hiperextensão (força o cotovelo no limite máximo), sobrecarregando os ligamentos e podendo gerar lesões nos mesmos ou até mesmo fraturas.
A lesão se inicia pelo lado interno (medial) e o primeiro ligamento a ser rompido é o ligamento colateral medial. Se o trauma é mais forte, a lesão progride para a frente, lesando a musculatura flexora (bíceps, flexores do antebraço e punho) e pode chegar até o lado de fora (lateral) com conseqüente fratura da cabeça do rádio ou lesão dos ligamentos laterais.
Foi o que aconteceu com o nosso grande Flávio Canto durante os Jogos Panamericanos na luta contra o americano.
O cotovelo foi forçado para trás com a mão apoiada acompanhado de rotação de todo o membro, gerando grande estresse na articulação e conseqüente luxação.
O ideal nestes casos é reduzir (colocar a articulação no lugar) o mais rápido possível, uma vez que o atleta está ainda sobre o efeito da adrenalina da competição, quente e portanto, nas melhores condições.
Após a redução, o alívio da dor é imediato, mas deve-se encaminhar o atleta até Hospital para realização de radiografias que irão mostrar a adequada congruência da articulação e a existência ou não de fraturas associadas.
A imobilização é importante nos primeiros dias, mas nos casos onde não temos fraturas, pode ser removida após poucos dias e iniciar-se a fisioterapia para ganho de mobilidade.
O atleta nestes casos está apto a retornar à prática do judô progressivamente entre 6 a 8 semanas, após um período de fortalecimento e ganho de confiança.
PROTEJA SEUS OMBROS!!!
O ombro é a articulação do nosso corpo com maior mobilidade, tendo uma grande amplitude de movimentos em quase todas as direções. Por isso, uma série de problemas o acometem durante a vida, tanto em pacientes sedentários quanto em atletas.
Uma perfeita sincronia e equilíbrio entre os diversos grupos musculares e as estruturas ligamentares e ósseas é fundamental para a boa saúde da articulação do ombro.
O que acontece particularmente no judoca?
Bem, no judô, a articulação do ombro é agredida de muitas formas. Primeiro, por ser um esporte cujo objetivo é projetar o adversário ao tatame, muitas vezes quem chega primeiro é o coitado do ombro. O que pode ocorrer neste caso de trauma direto são as fraturas de clavícula, escápula ou luxação da articulação acrômio-clavicular (são os casos nos quais “o ombro sobe”).
Além desta forma de lesão, o ombro pode ser sede de lesões por esforços de repetição, levando a tendinites, bursites, mioentesites e outras “ites” que se originam de um processo inflamatório decorrente de excesso de treino ou treino inadequado. Como é de se esperar, este tipo de problema ocorre mais freqüentemente em atletas competidores de alto nível que apresentam uma carga de treinamento elevada e principalmente em atletas com baixa estatura para a categoria, pois estes atletas têm que trabalhar com a articulação acima do nível do ombro, aumentando a sobrecarga.
Por fim, um problema que pode afetar o ombro do judoca é a instabilidade da articulação gleno-umeral, que são aqueles casos nos quais o ombro “sai fora do lugar”. Esse problema, chamado por nós médicos de luxação do ombro, ocorre quando há previamente um desequilíbrio das estruturas músculo-ligamentares associado a um trauma, que acarreta um primeiro episódio de luxação e que, se não tratado adequadamente, pode levar a outros episódios (o ombro começa a “sair do lugar” com freqüência).
Todos esses fatores somados fazem com que o ombro seja a articulação mais lesada na prática do judô. Segundo levantamento feito com 120 judocas competidores de alto nível, 69% deles já tiveram em alguma fase de sua carreira algum problema de ombro.
Então treinar judô quer dizer ter problema no ombro? Não! A boa notícia é que a maioria dos problemas acima podem ser evitados se realizada uma boa prevenção e se o médico for procurado ao primeiro sinal de qualquer problema que surgir.
Para prevenir lesões e manter a saúde dos seus ombros, faça uma compensação para os trabalhos de força com natação, bicicleta de membros superiores e bastante alongamento, e procure o ortopedista quando surgir qualquer problema, para evitar o agravamento deste ou o surgimento de outro.
ENTORSE DO JOELHO EM ESPORTES DE CONTATO
Um das lesões mais encontradas nos praticantes de judô é o entorse do joelho, uma articulação que suporta o peso do corpo e ao mesmo tempo serve de apoio para mudanças bruscas de direção no gesto esportivo (golpes como uti-mata, harai-goshi entre outros).
Em geral, o peso está apoiado sobre o joelho, com o pé preso, e o joelho é forçado para dentro, com lesão das estruturas internas (mediais), podendo haver um componente de rotação, o que agrava o quadro. Os tatames muito moles ou aqueles de lona não muito esticada são os piores pisos para este tipo de lesão.
Dependendo da força e da continuidade do movimento, vários graus de lesão podem ser originados, desde apenas a lesão do ligamento colateral medial, uma estrutura periférica e que é a primeira a estabilizar este movimento, passando pelo menisco medial, uma estrutura já dentro da articulação até chegar no ligamento cruzado anterior, o eixo central da articulação e que, quando lesado, origina um inchaço importante do joelho que pode ser acompanhado de um estalo audível.
– Ligamento Colateral Medial: é uma estrutura fora da articulação e portanto, quando lesado, pode se regenerar pela cicatrização espontânea e fisioterapia, retornando o atleta à atividade após um período de 3 a 6 semanas, dependendo do grau de lesão do ligamento
– Menisco Medial: já é uma lesão mais grave, que afeta uma estrutura dentro da articulação, levando a um derrame (inchaço da articulação), necessitando de uma avaliação mais criteriosa, muitas vezes complementada através de ressonância magnética do joelho, e que pode, dependendo da lesão, necessitar de uma artroscopia (pequena cirurgia) para o seu tratamento, com um tempo de retorno variando de 2 a 3 meses
– Ligamento Cruzado Anterior: é uma lesão grave, que gera uma instabilidade do joelho em movimentos de rotação e mudança de direção, o que, em muitas situações exige o tratamento cirúrgico para a sua correção, reconstruindo o ligamento lesado com o uso de um enxerto vizinho (tendão patelar, tendão do semitendíneo, etc), afastando o atleta por mais de 6 meses de suas atividades
Uma boa maneira de prevenir os traumas na articulação é manter uma musculatura bem condicionada, forte e alongada, evitar praticar esportes em excessiva fadiga e em pisos muito aderentes, e treinos de propriocepção para ganho de equilíbrio e coordenação.
De qualquer modo, se houver alguma lesão, a mesma deve ser avaliada e tratada precocemente, para o reestabelecimento integral do atleta antes do retorno à atividade física, pois muitas vezes encontramos lesões que são agravadas ou que levam a lesões secundárias decorrente de um não tratamento ou tratamento inadequado.