Emocionados, Branco e Zangrando enviam crônicas do dia histórico do judô em Londres
O ex-atleta olímpico Branco Zanol já foi colunista de diversos jornais, além de comentar o judô em olimpíadas para canais esportivos. Emocionado com as medalhas no primeiro dia de disputa em Londres, Branco escreveu uma crônica. Já Danielle Zangrando, primeira brasileira medalhista em mundiais, e comentarista nas Olimpíadas de Londres, não conteve a emoção em seu texto.
Confira abaixo:
Danielle Zangrando
Nossa quanta emoção !
Hoje foi um dia incrível que ficará guardado para sempre na minha memória !
Logo no primeiro dia das disputas do judô nos Jogos Olímpicos de Londres 2012 Sarah Menezes quebrou um jejum de 20 anos ao conquistar a primeira medalha de ouro olímpica do judô feminino e entrou para um seleto grupo de campeões olímpicos ao lado de Aurelio Miguel e Rogério Sampaio.
Sarah foi impecável. Desde o primeiro combate estava focada, determinada e não errou em nenhum momento.
Com apenas 22 anos de idade chegou a esta olimpíada cotada para fazer a final olímpica contra a japonesa Tomoko Fukumi, atual líder do ranking mundial e adversaria que a Sarah nunca tinha vencido até então.
E ela fez muito mais. Não só chegou a final como venceu a atual campeã olímpica, a romena Alina Dumitru,
Por isso que eu digo que não devemos ficar imaginando nossos possíveis adversários, porque os favoritos também caem e Fukumi nem chegou à final. Mas hoje eu posso dizer tranquliamente que qualquer adversaria que a Sarah enfrentasse na final ela venceria Até mesmo o mito da categoria Ryoko Tamura, dona de quatro medalhas olímpicas.
Quando a Sarah subiu no lugar mais alto do pódio passou um filme na minha cabeça e relembrei alguns momentos dela no inicio na seleçao brasileira. Em 2006 Sarah tinha apenas 16 anos quando começou a viajar com a equipe principal na qual eu fazia parte. Era uma menina tímida , que adorava ficar no computador, conversava com poucos, mas sempre falou que um dia seria campeã olímpica.
O primeiro treino dela no tradicional treinamento de campo em Paris Sarah sentiu até falta de ar de tanta ansiedade de estar pela primeira vez com as principais atletas do mundo da sua categoria. Nesse meio tempo Sarah conquistou o bi capeonato Mundial Junior.
De lá pra cá Sarah evolui tecnicamente, fisicamente e emocionantemente . Subiu ao pódio em 90% das competições que participou durante o ranqueamento olímpico, inclusive nos campeonatos mundias de 2010 e 2011, quando conquistou a medalha de bronze por duas vezes nas duas principais competições antes dos Jogos olímpicos , por isso eu sabia que ela tinha chances reais de chegar a final olímpica.
Ser campeã Hoje seria uma questão de detalhe, de quem estaria melhor hoje e a estrela da Sarah brilhou e ela conquistou a medalha inédita para o judô feminino brasileiro e entreou para história do esporte.
Se eu conseguisse falar com a Sarah hoje eu gostaria de dizer muito obrigada Sarah, pois você realizou o sonho de muitas gerações que contribuíram para hoje o judo feminino do Brasil ser respeitado.
nomes como : Monica Angelucci, Sorai André, Tania Ishii, Cristhiane Parmigiano, Vania Ishii, Andréa Berti, Edinanci Silva, Rosicleia Campos Priscila Marques, entre outros. Durante muitos anos todas nós sonhamos e nos dedicamos para conquistar essa medalha olímpica e você que faz parte desta geração vitoriosa que também inclui a nossa precursora em pódios olimpicos Ketleyn Quadros , bronze em Pequim, foi a escolhida para para realizar esse sonho.
Que orgulho de fazer parte desta historia, de ver você lutar como gente grande com apenas 22 anos, como uma mulher experiente que não errou em nenhum momento e soube como ninguém construir esse resultado fantástico.E o mais importante a partir se hoje você vai se tornar uma referência para as próximas gerações, virou ídolo. E agora vamos poder escutar das meninas que praticam judô que se espelham numa mulher do nosso esporte.
Mas gostaria de ressaltar que nada disso seria possível sem o treinamento com o seu técnico Expedito Falcão , com o seu comprometimento e da comissao tecnica da CBJ integrado com a sua comissão técnica ai do Piauí, com a sua dedicação diária para realizar esse sonho que muitos não acreditavam que um dia o judô feminino do Brasil iria chegar nesse patamar.
E aí eu tenho que abrir um parênteses e dar o mérito a uma pessoa que se chama Rosicleia Campos, essa mulher guerreira e sonhadora, que muitos acharam que não tinha capacidade para ser técnica de uma seleçao brasileira de judô e ela sempre acreditou e falou que essa medalha de ouro olímpica era possível ! Parabéns Rosi por você ter acreditado nas ” suas meninas” como você sempre nos tratou com muito carinho, por você ter lutado e batalhado por nós, por isso eu digo que essa medalha também é sua! Parabéns a Confederação Brasileira de Judô que confiou na Rosi durante todos esses anos.
Parabéns também ao querido e muito divertido Felipe Kitadai, parabéns duplamente , pois hoje é seu aniversario. Um dia inesquecível, uma festa que o Felipe nunca mais vai esquecer.
Você também foi incrível , fez lutas duríssima e teve uma atuação irretocável, fez cinco lutas venceu quatro e perdeu uma. Além de também entrar para historia do judo masculino, pois até então nenhum atleta do peso ligeiro tinha conquistado uma medalha olímpica e olha que tivemos grande judocas como o nosso técnico da seleçao brasileira Luis Shinohara que disputou os Jogos Olmpicos de Moscou em 1980 e em Los Angeles 1984. Parabéns Jun por mais uma medalha olímpica conquistada com técnico da seleçao brasileira. Parabéns também ao Kiko Pereira técnico do Felipe na Sogipa.
Parabéns ao judô brasileiro que logo no primeiro dia de disputa já fez o melhor resultado da historia do judô brasileiro em Jogos Olímpicos e vem muito mais por aí. Boa sorte Brasil!
Branco Zanol
Com muito mais muito coração Sarah e Kitadai fazem o sábado se tornar inesquecível e único para o judô brasileiro em Londres.
Acordo às 4:00 hrs da madrugada e já não consigo dormir, meu coração judoca me desperta, ele está atento e acelerado, mesmo ainda de pijama entro às 5:00 hrs no tatame com o Brasil.
Agora são quase 11:00 hrs e não consigo mais ficar sentado, ando de um lado para o outro, falta apenas 1 minuto e Sarah se mantém a frente, mas quem é judoca sabe dos perigos que rondam os últimos segundos de uma luta de judô, é justamente em cima deles que a história pode tomar outros caminhos, minhas mãos transpiram, minhas pernas se mexem e agora já luto junto com essa brasileira porreta de um coração enorme, ela faz um judô de muitos recursos técnicos, um judô impecável, com técnicas variadas, boa movimentação, força na medida certa, de sobra ainda trabalha um Ne-Waza (luta no solo) com muita segurança. Assim Sarah consegue se classificar para a final, após derrotar a belga Charline Van Snick nos últimos dois minutos.
Logo em seguida me vejo pulando com o meu filho Thomaz em meus ombros e gritando como muitos brasileiros gritaram!!
É o kitadai vencendo o coreano nos últimos segundos de uma forma espetacular, de uma forma que só quem coloca o coração vence. Olimpíadas é coração!!
Numa luta difícil e truncada com um italiano fisicamente mais forte, vejo Kitadai querendo mais uma vez, anda para frente, puxa, empurra, troca pegada, movimenta, tenta colocar seus golpes.
Ele sabe que a luta não é apenas mais uma e sim a mais importante de sua vida, onde toda uma trajetória é colocada em jogo, está valendo uma medalha olímpica. Kitadai mais uma vez tira forças de onde vive os samurais, lá de onde só quem quer muito consegue chegar, vai cruzado na gola e faz um seoe nague ajoelhado e assim coloca pela primeira vez a categoria ligeiro no pódio olímpico com a sua medalha de bronze, categoria na qual já tivemos tantos grandes craques, como o próprio Jun Shinohara (atual técnico da seleção brasileira de judô), como Fúlvio Miata (bronze no mundial) e tantos outros.
Sarah entra tranquila para fazer a primeira final olímpica da história do judô feminino do Brasil, ela caminha para a final como alguém claro que já sabia, “características dos grandes nomes do esporte”, pessoas que fazem o inédito se tornar fácil, seu semblante não muda, nesse momento fica bem claro que a cor dourada será a única capaz de tirar um sorriso dessa brasileira que saiu do Piauí para o mundo.
Durante a luta a romena sente a derrota e coloca a mão no braço para tentar tirar o foco da brasileira. A luta foi conduzida de forma estratégica e na minha boca já não tenho mais saliva, já que fazem 20 anos que o judô brasileiro não ganhava o ouro olímpico, emoção se mistura com receio, confiança se mistura com silêncio e num momento ruim da luta para Sarah, ela consegue aplicar um yoko tomoe nague e pontua com um yuko, assim abre vantagem em cima de sua oponente; os segundos se tornaram eternidade e nesse momento juntamente com o Brasil já grito: “É OURO!! É OURO!! É DO BRASIL”.
Mas ainda continua a tensão e só me solto de verdade quando ela consegue mais uma vantagem no final da luta, ela ainda ataca pelas costas da Romena e tenta um estrangulamento, vejo o tempo acabando no placar e o gosto do ouro vindo certeiro em nossas bocas, e entrando nas casas de todos os brasileiros!!
Sarah Menezes é a cara do Brasil: morena, bonita, franca e guerreira como o povo brasileiro, nunca perde a esperança, assim como o seu povo nordestino.
Sarah Menezes do Brasil!!