Em Brasília, COB compara e ignora dinheiro estatal
Comitê conta só verba da Lei Piva, deixa de lado outras formas de apoio do governo e diz que outros países investem mais no esporte
Em audiência pública ontem na Câmara dos Deputados, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, ignorou grande parte de verba estatal ao esporte para afirmar que países como Austrália, Grã-Bretanha, Alemanha e China investiram muito mais para alcançar resultados.
O COB argumentou que aplicou em suas atividades e nos programas das confederações esportivas nacionais um total de R$ 288 milhões (ou US$ 133 milhões no quadriênio).
A entidade apontou que a Austrália aplicou US$ 550 milhões no mesmo período, contra US$ 1 bilhão da Grã-Bretanha, US$ 1,2 bilhão da Alemanha e US$ 2 bilhões da China.
Mas, se forem considerados, além da Lei Piva, os patrocínios estatais, a lei de incentivos fiscais, o programa Bolsa Atleta e convênios fechados diretamente com o Ministério do Esporte a soma investida no esporte de alto rendimento no período ultrapassa R$ 1,2 bilhão. Ou seja, igualaria o valor em dólares investido pelos australianos.
Na Olimpíada de Pequim, o Brasil amargou uma 23ª colocação, com três ouros e 17 medalhas. Já a Austrália ficou no sexto posto na classificação, com 14 ouros e 46 medalhas.
Outro tema explorado durante a audiência, na qual estavam presentes presidentes de confederações patrocinadas por estatais (desportos aquáticos, vôlei, atletismo e handebol), foi sua polêmica reeleição, no início do mês passado.
No comando do COB desde 1995, Nuzman não foi em nenhum momento pressionado pelos parlamentares, mas, logo em sua apresentação inicial, apressou-se em justificar a recente reeleição até 2012.
Nuzman disse que foram cumpridos todos os prazos legais para comunicar os presidentes de confederações (eleitores) sobre o pleito. “Então essa eleição foi uma eleição meramente para consagrar uma chapa de candidatura única.” No início de outubro, sem o apoio das confederações de tênis de mesa e de badminton, Nuzman foi reeleito para seu quarto mandato. Foi a primeira vez que não obteve a unanimidade na eleição. Essa eleição foi convocada às pressas e não contou com chapa de oposição.
Ele justificou a longevidade dele e de presidentes de confederações nos cargos como uma única forma para obter “prestígio” internacional. “A experiência e a participação de um dirigente na área internacional, no mínimo, ele tem que ter, no mínimo, 12 anos [no cargo].”
Nuzman completou: “Todos têm um tempo superior a isso para poder ter esse prestígio.
Senão é problema. Eu não vou dizer aqui as influências que têm dentro da política de uma entidade internacional”.
Eduardo Scolese e Eduardo Ohata – colaborou Rodrigo Mattos
Folha de São Paulo