Rafaela segue passos de Flavio Canto e Camila garante: “O mundo está conhecendo o judô feminino do Brasil”
Dizer que 2008 tem sido um ano especial para o judô feminino brasileiro não é exagero. Com medalhas desde as etapas iniciais da Copa do Mundo Sênior nos primeiros meses do ano e o bronze histórico de Ketleyn Quadros nos Jogos de Pequim (a primeira medalha olímpica individual feminina do Brasil), as mulheres estão fazendo por onde encerrar a temporada com chave de ouro. No 14º Campeonato Mundial Júnior, disputado em Bangkok, Tailândia, a sexta-feira (24) foi de Rafaela Silva (-57kg) e Camila Minakawa (-63kg). Rafaela, carioca da Cidade de Deus e “cria” da ONG Instituto Reação, saiu vencedora no peso leve. Já a paulista Camila, nascida “no tatame” com pais judocas, foi bronze no meio-médio. Em dois dias de competição, já foram três pódios do Brasil no Mundial Júnior, contando com o ouro de Sarah Menezes (-48kg) na estréia do campeonato.
“Comecei no judô meio por acaso. Antes eu ficava o tempo todo na rua brigando e fazendo bagunça”, recorda a tímida Rafaela, que não deu mais do que um leve sorriso no pódio ao colocar a medalha no pescoço. “Eu treinei muito desde que ganhei o Brasileiro Júnior no começo do ano. Meu técnico Geraldo (Bernardes) sempre acreditou que subir no pódio em uma competição assim seria possível”, diz a judoca de 16 anos, que este ano já havia sido prata na Copa do Mundo Júnior da Alemanha.
Os olhos do judô mundial começaram a se direcionar para a menina de jeito sério e faixa marrom na cintura quando, sem a menor “cerimônia”, defendeu-se de um golpe (que valeu yuko) da japonesa Makiko Otomo com uma incrível chave de braço. Aprendeu com quem?
“O Flávio (Canto) sempre me incentiva e passa o que ele sabe fazer de melhor no judô no chão. Eu também sou fã do newaza”, garante Rafaela, que nasceu e ainda vive na Cidade de Deus, Rio de Janeiro. Aos cinco anos, começou a praticar judô na ONG Instituto Reação, criada pelo medalhista olímpico Flávio Canto. “Uma coisa que ele me diz sempre é que tenho que entrar para lutar respeitando a adversária, mas sem medo. Pois eu tenho tudo para vencer”.
Pela medalha de ouro, Rafaela ganhou um prêmio de US$ 2 mil da Federação Internacional de Judô. A peso leve venceu Om Pongchaliaew (THA) por yuko, bateu a japonesa Makiko Otomo por ippon (chave de braço), ganhou da turca Bahar Buker por yuko, derrotou Gemma Howell (GBR) por wazari e a francesa Automne Pavia por ippon em apenas 23 segundos.
Camila Minakawa também brilhou. Ganhou seus três primeiros combates por ippon sobre Balnur Kiyalbekova (KAZ), Nyamjargal Mungunshagai (MGL) Narine Zaimtsyan (RUS). Só perdeu na semifinal diante da holandesa Antoinette Hennink, atual campeã européia. Na disputa do bronze, não precisou lutar já que a coreana Da-Woon Joung não entrou no tatame. A paulista de 18 anos embolsou US$ 500 pelo bronze.
“Quando se pensa em judô brasileiro a primeira imagem que vem é o masculino. Agora o mundo está aprendendo a conhecer o valor das mulheres do Brasil”, diz, feliz, Camila Minakawa, que contou com a torcida dos pais, também judocas, na Tailândia.
A meio-médio sabe que a medalha não foi por acaso. Foi fruto de muito trabalho.
“Todo o planejamento foi perfeito. Conseguimos chegar no Mundial no auge da forma. O momento chave foi na Alemanha, quando pudemos treinar e competir com nossas adversárias aqui do Mundial. Depois fomos fazer a aclimatação no Japão com a seleção olímpica, onde pudemos pegar experiência deles. E acabamos ‘mordidos’ pelo mosquitinho Olímpico. Deu mais vontade em todas nós. Aí na fase final de treinos na França foi só a lapidação dos detalhes”, acredita Camila, de 18 anos.
Com três medalhas em quatro categorias disputadas, as meninas sabem que os primeiros pódios motivam o restante da equipe que ainda vai vestir o quimono.
“Nós todos, do masculino e feminino, torcemos um pelo outro. E ver uma medalha no pescoço de alguém com quem treinamos é muito legal”, conta Camila, que recebeu um abraço emocionado do peso ligeiro Felipe Kitadai, cheio de lágrimas nos olhos.
Tanto Camila quanto Rafaela não terão descanso. Elas disputam a pré-seletiva para Londres 2012 nos próximos dia 1 e 2 de novembro, em Vitória/ES.
Competiram também neste segundo dia do Mundial Júnior os brasileiros Marcos Junior (-100kg) e Bruno Altoe (-90kg). Marcos venceu o primeiro combate contra o tailandês Thanakron Triratanavarapon por ippon, mas perdeu para o georgeano Konstantine Mukvani. Já Bruno perdeu na primeira rodada para o coreano Kyu-Won Lee.
Neste sábado lutam Mayra Aguiar (-70kg) e Stefanie Lupetti (-78kg), no feminino, e Marcelo Filho (-81kg) e Victor Penalber (-73kg) no masculino. O site www.ippon.org acompanha os combates em tempo real.
-100kg:
1. Lukas Krpalek (CZE)
2. Marvin Huisman (HOL)
3. Anton Martsulevich (BLR)
3. Temuulen Battulga (MGL)
5. Katsuoki Terashima (JPN)
5. Ibrakhim Khamkhoev (RUS)
-90kg:
1. Varlam Liparteliani (GEO)
2. Marvin de La Croes (HOL)
3. Marcus Nyman (SUE)
3. Luke Taylor (GBR)
5. Tomasz Domanski (POL)
5. Kyu-Won Lee (COR)
-63kg:
1. Yuki Kikukawa (JPN)
2. Antoinette Hennink (HOL)
3. Eszter Gaspar (HUN)
3. Camila Minakawa (BRA)
5. Tinatin Kulusashvili (GEO)
5. Da-Woon Joung (COR)
-57kg:
1. Rafaela Silva (BRA)
2. Automne Pavia (FRA)
3. Gemma Howell (GBR)
3. Tina Trstenjak (SLO)
5. Nesria Jelassi (TUN)
5. Liudmyla Marchenko (UKR)
Manoela Penna, de Bangkok