Para Editoria de Esportes
De Media Guide Comunicação
Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2007
BRASIL FAZ BALANÇO DO CAMPEONATO MUNDIAL
Os campeões João Derly, Tiago Camilo e Luciano Correa falam das conquistas. Comissão técnica avalia o desempenho da equipe.
O judô brasileiro teve uma campanha histórica no XXV Campeonato Mundial, encerrado na noite deste domingo (16/9) na Arena Olímpica, no Rio de Janeiro. Com três medalhas de ouro (João Derly –66kg, Tiago Camilo –81kg e Luciano Correa –100kg) e o bronze de João Gabriel Schillitler +100kg o Brasil conquistou a primeira colocação no quadro de medalhas masculino. No geral, os brasileiros ficaram atrás apenas do Japão. João Derly se consagrou o primeiro judoca nacional a ser bicampeão mundial (2007 e 2007).
Segue bate-papo com os três medalhistas e balanço da comissão técnica sobre a competição:
João Derly (OURO na categoria até 66kg)
Qual a diferença entre o título conquistado no Egito em 2005 e este no Brasil?
“A diferença é que no Egito tive muito mais facilidade para ser campeão. Venci a final por ippon em 42 segundos. Aqui eu tive meu estilo de luta muito estudado e todas as lutas foram duras”.
Na decisão você encarou um dos seus maiores rivais na atualidade, o cubano Yordanis Arencibia. Como foi lutar a decisão contra um adversário conhecido?
“Foi complicado pois ele me enfrenta há anos e qualquer um poderia ser campeão. Este ano nos enfrentamos três vezes e venci uma. Venci no Mundial e nos Jogos Pan-Americanos ou seja, quando era para valer mesmo”.
Sua família esteve presente no Rio de Janeiro acompanhado suas lutas. Você é muito ligado aos seus familiares?
“Sim. Se cheguei onde estou devo à minha família. Eles sempre acreditaram em mim e me apoiaram nos momentos difíceis. Tudo o que conquisto é para eles”.
Pelo critério da comissão técnica você está classificado para os Jogos Olímpicos de Pequim. Quando começa sua preparação?
“Agora (risos). Só vou tirar alguns dias de descanso em Porto Alegre e dar inicio ao trabalho. Penso que nada acontece por acaso. Fiquei de fora das duas ultimas olimpíadas e foi muito triste. Cheguei até a pensar em desistir em alguns momentos. Mas a vida nos ensina que precisamos ser perseverantes e sou uma prova disso”.
Você foi o primeiro brasileiro campeão mundial e agora é o primeiro bicampeão. Você gosta de ser pioneiro?
“A pressão era muito grande por ser o único campeão mundial no Brasil. Sempre que tinha um torneio o peso era enorme. Agora tenho outros dois amigos que são campeões também. Quando ao bicampeonato, foi sem duvida especial. Vencer no Brasil, com a torcida apoiando é algo inesquecível. Agora é buscar a medalha olímpica e entrar para um grupo ainda também seleto”.
Tiago Camilo (OURO na categoria até 81kg)
Você foi vice-campeão olímpico nos Jogos Olímpicos de 2000 e agora é campeão mundial. Qual conquista é mais importante?
”A magia de uma olimpíada é única e só quem esteve num pódio pode explicar a sensação. Acredito que aqui no Mundial eu esteja num momento diferente da minha vida. Em 2000 tinha apenas 18 anos e depois dessa conquista deixei algumas coisas escaparem. Mas, um dia depois de ser campeão, estou aproveitando ao máximo”.
A quem você dedica essa medalha de ouro?
”A minha família, amigos, treinadores e até a quem me criticou. Provei para muita gente que eu sou competitivo no meio-médio”.
Você fez lutas com muita variedade de golpes e venceu todas por ippon. Você busca sempre a perfeição?
”Sim, eu busco a prefeição em tudo na minha vida, não só no judô. Tento ser um bom filho, irmão e amigo. Trabalho muito duro e tudo o que conquistei foi de maneira limpa, honesta e com amor. Fiz por merecer. No início do ano, tive algumas oportunidades de vencer torneios na Europa e não aproveitei as chances que tive. Desta vez, não deixei escapar”.
E lutar nesta arena, com o público apoiando?
”É muito gostoso. O Rio de Janeiro me deu mais uma bela lembrança. Foi legal pois como no Pan, mais uma vez subi no pódio no Rio numa sexta-feira. É tudo muito intenso e o apoio da torcida foi especial. Estou ainda curtindo esse momento, que é único. Sem dúvida este mundial ficará marcado para sempre na minha memória e espero que ele seja um divisor de água para o judô brasileiro”.
Você trocou a cidade de São Caetano, em São Paulo, por Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Já dá pra te chamar de gaúcho?
”O povo gaúcho me acolheu como um filho. Desde que cheguei lá conquistei vitórias importantes nos tatames e na minha vida. Esta conquista também é para todos da Sogipa e do Rio Grande do Sul”.
E ajudar o João Derly na preparação para as lutas. Como está sendo dar uma força no aquecimento dele?
”Isso mostra que o judô é um esporte onde não se conquista nada sozinho. O Luciano Correa me ajudou a aquecer no dia seguinte da conquista do ouro e estou retribuindo isso ajudando o João”.
Maior escola do judô no mundo, o Japão fez uma campanha abaixo do esperado no Mundial. O que você acha disso?
”Isso prova que no esporte não existe favorito. A vitória vem de uma equipe unida e este time brasileiro é sensacional. O importante é sempre dar o melhor em tudo: na vida, na escola, no trabalho…Assim ajudamos a construir um mundo melhor”.
Luciano Correa (OURO na categoria até 100kg)
Como é acordar campeão mundial?
”Aos poucos a ficha do título Mundial vai caindo. Antes do campeonato, eu imaginava que conseguir igualar o bronze do Egito já seria bom, imagina agora!”
Você dizia após a conquista que estava aliviado com a vitória…
”É, chega de bater na trave. Fui bronze na Universíade de 2003, no Mundial de 2005, nos Jogos Pan-Americanos 2007. O meu problema era sempre a semifinal e quando entrei para enfrentar o húngaro pensei comigo que não poderia errar de novo”.
Qual foi o momento crucial da sua campanha?
”O ponto chave foi a luta com o Makarov. Ali me fortaleci, pois era um adversário muito forte”
Tecnicamente falando, o que um campeão do mundo ainda pode melhorar?
”Fui campeão, mas tenho muita coisa ainda para melhorar. Agora tenho que criar variáveis para o meu judô. Vou ser mais visado e estudado. Não posso depender de um jogo só se não vão me anular”.
Como você acha que sua medalha de ouro pode influenciar a prática do judô?
”Sei da importância do título mundial para incentivar as crianças a praticar judô. Me lembro quando era moleque, eu pedia autógrafo para campeões como Aurélio Miguel. Hoje posso estar nesta posição”.
O falecimento da sua namorada, em 2005 após o Mundial, foi um marco na sua vida. O que passou na sua cabeça naquela época em relação ao judô?
”Hoje estou bem para falar disso. Foi realmente um momento conturbado e fiquei sem ânimo para treinar. Daquele jeito eu não iria a lugar nenhum. Perdi a seletiva e 2006 acabou sendo o meu ano da superação. Reergui minha vida. Para isso foi essencial o apoio dos amigos e da minha família. Nas lutas nesse Mundial senti uma energia do céu para superar os adversários, de Sara e de Deus”.
Em 2006, você perdeu a seletiva. Como foi a sua volta à seleção, culminando com este título?
”Investi em mim em 2006 para voltar à seleção e não me arrependo. Com a ajuda do Minas Tênis Clube, viajei para os treinamentos internacionais dos quais a seleção participou e passei temporadas em São Paulo também para treinar. A medalha é minha, claro, mas não conquistei ela sozinho. Tem muita gente por trás na equipe me ajudando: técnico, preparador-físico, nutricionista e preparador mental. É o trabalho de muita gente durante muito tempo”
Quais os planos agora?
”Agora só quero comemorar com minha família e meus amigos que vieram me ver, tirar alguns dias de folga e me preparar para a seletiva para as Olimpíadas de Pequim. Este é meu sonho maior”.
COMISSÃO TÈCNICA
Ney Wilson (Coordenador técnico internacional do Brasil)
“A estrutura que montamos fez a diferença para o Brasil neste mundial. Poder contar com um trabalho psicológico, nutricional e de estudo de vídeos durante a competição foi algo que refletiu dentro do tatame. Superamos nossas expectativas. Antes do mundial começar, nossa meta era conquistar três medalhas e superar a melhor campanha em mundiais. Tínhamos na seleção sete judocas credenciados, pois eram medalhistas olímpicos ou mundiais. No final acabamos com um bronze e três ouros. Essa campanha é histórica e mostra que estamos no caminho certo para os Jogos Olímpicos de Pequim no ano que vem. O que conquistamos aqui no Rio vai fazer com que a campanha brasileira esteja a frente de potências do judô como Japão, Holanda, Russia, Cuba entre outros. Vamos chegar à Pequim com uma equipe maravilhosa e, com certeza, a mais forte de todos os tempos. Pois jamais o Brasil teve em seu time três campeões mundiais”.
Luis Shinohara (técnico da equipe masculina)
“Não posso negar que foi uma surpresa conquistar três medalhas de ouro. E dessas três, talvez a do Luciano Correa seja a mais impressionante. Apesar de já ser medalhista em mundial (bronze em 2005), Luciano é um atleta que corre muito atrás dos seus sonhos e ver ele no alto do pódio foi uma alegria. Luciano luta muito mais com o coração do que com a técnica. O fato de competir no Brasil dá uma motivação a mais para o atleta, mas três ouros é surpreendente. Aliás, se estamos surpressos, imagine como não está o resto do mundo. Vamos ter muito trabalho até a olimpíada para neutralizar essa pressão de lutar com tantos atletas consagrados. O Japão atravessa um momento muito difícil, que o Brasil já atravessou há alguns anos atrás. Fomos para a Europa e buscamos treinar o estilo de lutas dele e deu certo. Confesso que não é um judô bonito, mas é eficiente”.
Rosicléia Campos (técnica da equipe feminina)
“Depois das sete medalhas nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, era natural que houvesse uma expectativa sobre o desempenho da equipe feminina no Mundial. Mas são duas competições completamente diferentes. No Mundial, o importante para nós era disputar o maior número de lutas possíveis e conseguimos fazer bons combates. Claro que havia expectativa sobre a Edinanci Silva e a Danielle Zangrando por serem medalhistas mundiais, mas as mais jovens também lutaram bem. Vimos a cada derrota o que podemos melhorar e a notícia boa é que temos muito o que trabalhar. O objetivo agora é classificar as sete categorias para a olimpíada. Temos grandes chances, já que apenas no pesado precisamos batalhar para ficar entre as três primeiras do ranqueamento continental que, no ano que vem, credenciará os atletas para a competição”.
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