Bate-bola: Jairo Rodrigues
L.C.Martins/Esporte Ágil
Depois de realizar uma carreira como atleta de destaque no judô sul-mato-grossense, chegando a representar o Brasil em várias seleções, Jairo Rodrigues se tornou professor e técnico da modalidade e hoje é dirigente da Federação de Judô de Mato Grosso do Sul (FJMS) e chefe de divisão do desporto de rendimento da Funesp.
O ano, como ressalta Jairo, não foi muito bom para o desporto do Mato Grosso do Sul, principalmente pelo não cumprimento do FIE (Fundo de Investimento Esportivo) pelo Governo do Estado. Apesar disso, o dirigente destaca os feitos da FJMS durante o ano, como o Campeonato Brasileiro Juvenil, e as medalhas conquistadas pelos atletas sul-mato-grossenses fora do País. E ressalta: se o Brasil quiser ser uma potência olímpica, sem o desporto de base não dá.
Esporte Ágil – Como foi a temporada de 2006 para o judô de MS?
Jairo – O ano de 2006 foi um ano bastante proveitoso para o esporte de Mato Grosso do Sul. Foi um ano onde conquistamos muitos resultados expressivos à nível nacional e internacional. Foi um ano também onde voltamos a realizar um campeonato nacional no Estado, realizamos o Campeonato Brasileiro Juvenil, e foi dito pela Confederação Brasileira de Judô, não foi nem por nós, que foi o campeonato mais organizado do ano, que o melhor campeonato brasileiro da temporada foi o nosso. Até nesse final de ano recebemos uma mensagem, ressaltando esse grande evento que nós realizamos em parceria com a Prefeitura e com a Funesp, que foi fundamental, e junto também com a imprensa, que ajudou muito na divulgação, e a imprensa divulgando, a gente consegue captar algum recurso da iniciativa privada.
Esporte Ágil – Individualmente teve algum destaque?
Jairo – No lado individual, nós tivemos atletas com destaque muito importante, que são atletas do Colégio Sealp, que tem uma associação de judô lá dentro, com atletas de seleção brasileira, que foi o caso da Jéssica (Soares), campeã sul-americana, terceiro lugar no Pan-americano (de judô), a Emory (Spontoni), que foi vice-campeã sul-americana e campeã no Aberto de Cali. Tivemos também do Interior a Natascha Duarte, que foi medalha de bronze no Aberto dos Estados Unidos, então foi um ano bastante rico em termos de resultados. Isso é fruto de um trabalho que a gente ve fazendo há bastante tempo, porque graças à Deus, a Federação de Judô ela nunca teve uma quebra de trabalho. Tanto é que nas eleições de todas as diretorias, ela foi fundada de 1979 para 1980, todos os presidentes foram aclamados na eleição. Nunca teve disputa, nunca teve duas chapas, uma oposição da outra, porque toda vez que há esse tipo de disputa, que uma chapa concorrente ganha, há uma quebra, começa tudo de novo… E nós não. O judô graças à Deus, desde 79, nós estamos vindo numa crescente, passa de presidente para presidente sempre do mesmo grupo, lógico que nós temos divergências, mas a gente consegue harmonizar e levar o judô pras eleições sempre sem disputa. A gente consegue equalizar as coisas e aqueles que não estão muito contentes vem pro grupo, ajuda a crescer, dá sua opinião, dá sua contribuição de o que ele acha que tem que ser mudado, e algumas coisas realmente são importantes. Prova disso é que nós temos agora nessa gestão do atual presidente César Paschoal, nós temos muita gente nova, principalmente na parte técnica, que é o caso do professor Marcos Aguillera, que está fazendo um grande trabalho na direção técnica, o professor Marcos Moura na direção de seleções. São duas pessoas que nunca estiveram na diretoria da Federação, sempre tiveram fora, e agora nessa atual gestão, estão contribuindo com o conhecimento e a experiência deles.
Esporte Ágil – E para 2007, a FJMS já tem o calendário definido?
Jairo – Nosso primeiro evento é em abril, que é o Torneio Início. A gente chama assim porque ele abre todas as competições do ano de 2007. Então isso já está definido. É em abril, precisamente o dia ainda teremos de estudar, por que depende do calendário nacional. Então todas as federações esportivas dependem de um calendário nacional, e esse calendário nacional depende de um internacional. É uma sequência. Então estamos aguardando. O de abril já é certo, que é o campeonato que abre. Por que em abril? Porque o mês de abril é a data para realizar o nosso campeonato para montarmos nossa primeira seleção do Estado (100 atletas), que irão disputar o Regional, no final de abril. Novamente o Campeonato Brasileiro Regional o qual nós fazemos parte, que é o Centro-Oeste Região V, que é num dos Estados da região, Brasília, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. O ano que vem ainda não está definido qual Estado vai sediar o regional, acredito que possa ser Tocantins, que está fazendo parte da região (somente na CBJ), apesar de geograficamente não fazer, mas ele já está dentro da região centro-oeste.
Esporte Ágil – Por que não houve um judoca de MS candidato a uma vaga no Pan-americano do Rio de Janeiro?
Jairo – o Estado nós tinhamos um trabalho visando o Pan-americano, chamava Pan 2007. Esse trabalho nós conseguimos iniciar em 2002, mas infelizmente nós não conseguimos manter esse grupo treinando. Nós tinhamos atletas em condições de estar nesse Pan, mas é aquela realidade: o Estado do Mato Grosso do Sul, principalmente de alto rendimento, depende muito de recurso. Nós tivemos aqui durante dois anos, três anos praticamente, um técnico exclusivo trabalhando com os atletas, que era o professor Amadeu (Moura Junior). Para se ter uma idéia, ele é técnico da seleção olímpica mexicana hoje. Infelizmente nõs não pudemos mante-lo treinando essa nossa geração aqui, e esses atletas se disperssaram. Fazer desporto de alto rendimento aqui, ainda temos dificuldade financeira. Técnica nós temos, professores capacitados, atletas de bom nível, só que depende do recurso. Para você manter um atleta de alto rendimento vai muito recurso. Muitas viagens, material, abdicação de faculdade, bolsa de estudo… Chega uma idade que para fazer o desporto de alto rendimento a gente ainda tem dificuldade.
Esporte Ágil – E isso pode mudar algum dia?
Jairo – Podemos ainda algum dia conseguir, nós não estamos trabalhando aqui na Funesp visando isso. Nós temos um projeto aqui chamado Geração Olímpica. Isso é para 2007, 2008, começar esse trabalho. Se não tiver esse suporte da iniciativa pública, não se faz esporte de rendimento. Quem consegue fazer alguma coisa tem que sair fora. De repente um grande clube ou uma grande empresa patrocina. Mas aqui no Estado ainda, nós temos essa dificuldade financeira. Não técnica, não de conhecimento, não de material humano, isso eu estou falando do judô. Nós temos grandes atletas que infelizmente tem que sair para um grande centro. Parte daquele grupo que estava nesse projeto hoje estão na Gama Filho (três), um no Minas Tênis Clube, teve um outro que estava no Projeto Futura em São Paulo, que já retornou. Então quer dizer: daquele grupo, quem tinha condições ou parou ou foi para um grande centro.
Esporte Ágil – O que achou da atuação da imprensa neste ano?
Jairo – A comunicação, é fundamental. Porque o que atrai algum patrocínio, algum apoio, a vontade de empresas, de órgãos públicos ou de pessoas apoiarem o esporte é justamente divulgação. Então, se nós temos um canal aberto, como é o caso do Esporte Ágil, que coloca no site, sai no jornal, Campo Grande inteira recebeo material de divulgação, isso sem dúvida ajuda muito. Porque antes nós tinhamos o veículo fechado. Era o Correio do Estado, que fazia um trabalho, mas também não era assim um trabalho totalmente aberto. A gente mandava as matérias, algumas vezes saia, outras não… Então agora não, agora a gente tem um canal do esporte. Isso que é importante. Ali se fala de esporte independente de bandeira política, de modalidade, se é olímpica, não olímpica. Nós temos um canal aberto que é a imprensa que realmente divulga. O que você manda de coisa importante sai. E é isso que nós precisávamos. De alguém que realmente que falasse a língua do esporte, onde nós enconramos no site e no jornal de vocês, que assim, para nós, inclusive nos nos nossos relatórios, nos nossos balanços que fazemos, nós sempre citamos, colocamos no jornal, inclusive no relatório do Campeonato Brasileiro por exemplo, nós mandamos cópias dos exemplares dos jornais que foram divulgando o torneio. Nos relatórios aqui também de eventos nacionais da prefeitura, sempre nós anexamos as fotos que estão no site. Semana passada mesmo eu terminei um relatória do Projeto Segundo Tempo, que vocês cobriram lá. Nós usamos para mandar para Brasília esse relatório uma cópia do jornal, porquê isso é importante, está divulgando o que nós estamos fazendo aqui. Então quer dizer, a importância da divulgação já está até a nível federal, não está mais restrito somente a Campo Grande.
Esporte Ágil – O que você não levaria de 2006 para 2007?
Jairo – O ponto negativo de 2006 para o esporte foi o não cumprimento por parte do Governo do Estado da aplicação do recurso do FIE (Fundo de Investimento Esportivo), que são recursos próprios para o esporte, foi uma conquista do esporte, são fundo que deceriam estar a disposição do esporte, e nós não conseguimos utilizar. Isso foi ruim para várias federações, não só para a Federação de Judô. Então esse foi o ponto negativo de 2006. Nós tinhamos vários projetos, inclusive as federações estão com problemas financeiros por conta disso. O Campeonato Brasileiro que realizamos por exemplo, nós contávamos com uma parte do recurso para cobrir esse evento do FIE, e nós não tivemos. Nós tivemos que correr atrás, a federação de endividou, conseguiu parceiros, mas mesmo assim a FJMS ficou com esse ônus todo, que seria uma parte do fundo que é para isso, o fundo existe para isso, não é esmola, ele foi criado para isso. E a gente não conseguiu fazer uso desse fundo. A Federação de Judô dispôs de um recurso muito grande, e a gente está sofrendo agora no final do ano para colocar em dia a casa. Realizamos o Brasileiro, como ele deveria ser, não faltou para o nacional, graças ao apoio da Prefeitura que foi fundamental, foi “parceiraça” junto com a Funesp nesse evento. Mas a parte do fundo, o dinheiro da Prefeitura não cobriu tudo.
Esporte Ágil – E com a entrada do no governo, algo muda?
Jairo – Esperamos que com a entrada desse novo governo, que é o André Puccinelli, que sempre foi sensível ao esporte, a situação possa mudar, tanto é que foi no mandato dele, quando era prefeito, que foi criado o FAE (Fundo de Apoio ao Esporte), um fundo que nunca perdeu a sua finalidade, até hoje continua fazendo o papel dele, esse ano foi fantástico, as distribuições do FAE foram bem feitas, a Funesp conseguiu canalizar o recurso para aquelas modalidades mais necessitadas. Mesmo sendo um fundo menor do Estado, conseguiu fazer uma boa distribuição. Conseguimos investir naqueles atletas, naquelas federações, naqueles eventos onde realmente era necessário o recurso. Já em contra-partida o FIE deixou a desejar, e esse governo que termina agora, infelizmente para o esporte, o último ano dele deixou uma imagem muito negativa. O esporte nunca teve bandeira política e foi deixado de lado nesse final de mandato. Mas esperamos que com o André Puccinelli, o FIE possa voltar a fazer sua função, que é de apoio ao esporte, de apoio às federações, à quem realmente toca o esporte. Quem faz o esporte, lógico, são os clubes, são as academias, são as escolas, mas se as federações não têm dinheiro para fomentar, para fazer os eventos, para participar, porque boa parte desses recursos a gente usa muito em viagens, pega as seleções do Estado e vão disputar campeonatos nacionais e internacionais. Isso faltou, e eu acredito que isso seja uma reclamação de várias federações, não só de judô. Mas temos bastante esperança para 2007, porque é um ano importante para o esporte brasileiro.
Esporte Ágil – E a Lei de Incentivo ao Esporte, ajuda de que maneira?
Jairo – Graças à Deus passou a nível Federal a Lei de Incentivo ao Esporte, semelhante a Lei Rouanet que tem para a cultura, passou agora, na semana passada, e só está na mão do presidente para sancionar*. Então esse é um ponto positivo para o esporte, porque isso vai fazer um efeito em cadeia, um efeito dominó. Passou essa lei em Brasília, reflete nos Estados, reflete nos municípios, porque é uma lei realmente forte, que veio para alavancar o esporte definitivamente. E veio num ano bom, que ocmo em 2007 nós temos o Pan-americano no Brasil, então vai ser um ano que o brasileiro vai respirar esporte. Pode-se ver que desde o ano passado, desde 2005, as grandes redes de comunicação já estão jogando a importância do esporte, do professor, da paz esportiva. Isso vai radiar no Brasil inteiro. E brasileiro é assim, é muito influenciado nesse sentido, um ponto positivo que o esporte tem. Esse vai ser o grande legado que o Pan-americano vai deixar, junto com essa Lei de Incentivo do Esporte, que isso vai fomentar realmente o esporte, agora vai se ter realmente dinheiro para se fazer, porque existe a Lei Agnelo Piva, que apoia as confederações brasileiras, mas somente o esporte de auto-rendimento. E essa lei não, ela poderá ser usada no desporto de base, de iniciação, que é o mais importante. Não adianta você pensar só na ponta, tem que começar na base. O Brasil só vai tornar-se uma grande potência esportiva no dia em que investir no desporto que por exemplo, a prefeitura faz. Nós fazemos desporto de base, iniciação, aperfeiçoamento, aqui que está a formação. Se você quer chegar a um País com tradição olímpica, no mínimo uns 8 a 10 anos de trabalho e investir muito na base, porque se não tiver base não adianta.
* A Lei foi sancionada nesta sexta-feira (29).