Entrevista: Ney Wilson Pereira da Silva
Em meio às mudanças do judô mundial e ao início da temporada estadual de 2006, Ney Wilson Pereira da Silva, Coordenador Técnico Internacional da Confederação Brasileira de Judô, fala, nesta entrevista, sobre os rumos da modalidade no país, após as mudanças estruturais e técnicas nos últimos tempos. Confira!
JUDÔ RIO – O judô mundial vem passando por mudanças estruturais e técnicas nos últimos anos. Por que? Quais são as principais alterações ocorridas?
NEY WILSON – A Federação Internacional de Judô (FIJ) está procurando adaptar a modalidade aos interesses da mídia, especialmente da televisão, além de criar mecanismos que facilitem o público entender as regras do esporte, sempre visando aos Jogos Olímpicos. É importante que o público leigo possa acompanhar as lutas, que devem ser cada vez mais dinâmicas. Por isso, a primeira providência da FIJ foi a adoção do quimono azul, uma decisão polêmica, que contrariou a vontade dos japoneses, pioneiros na prática do judô.
Em seguida, houve uma mudança na forma de aplicar as advertências. Ao invés de shido,chui e keikoku, passamos a ter o shido1, 2 e 3. Dessa forma, para os diversos tipos de advertÊncias é adotada uma nomenclatura padrão, que é o shido, apenas evoluindo do shido 1 até o shido 3. Também houve a introdução do golden score. Antes, quando as lutas terminavam com o placar igual, muitas vezes as pessoas não entendiam o critério de desempate aplicado pelos árbitros, deixando margem para polêmica. Com a introdução do golden score, as lutas que terminam empatadas não vão mais para a decisão dos árbitros e, sim, recomeçam imediatamente. A primeira pontuação ou advertência encerra a luta. Isso também dinamizou muito os confrontos. Hoje, 90% dos combates, que vão para o golden score, terminam nos primeiros 1m30s.
Por fim, houve uma mudança no formato da área de luta, o que deverá ser homologado no Congresso da FIJ no Mundial Júnior de Santo Domingo, em outubro. A nova área foi utilizada pela primeira vez no Brasil durante o Desafio Internacional, em Belo Horizonte, dias 18 e 19 de março.
JUDÔ RIO – O que foi modificado em relação à área tradicional de luta? Quais os benefícios técnicos desse novo formato de shiai-jo?
NEY WILSON – Em termos concretos, a luta ficou mais dinâmica e coerente, sendo abolida a área de perigo. Tecnicamente se utilizam os mesmos princípios do ne-waza, ou seja, enquanto houver contato com a área de combate, ainda que esteja com um dos pés do lado de fora, o golpe é válido, o que não ocorria no formato anterior, com a área de perigo.
JUDÔ RIO – Já há previsão de se realizar um campeonato estadual utilizando essa nova área?
NEY WILSON – Estamos estudando, uma vez que há necessidade de investimento na compra de novos tatamis para haver o contraste entre a área de combate e a área de segurança.
JUDÔ RIO – Você acredita que o judô brasileiro já esteja adaptado a todas essas transformações?
NEY WILSON – Sim. Principalmente os atletas, que vêm de experiências internacionais na Europa, onde as mudanças já foram implementadas há mais tempo.
JUDÔ RIO – Quatro judocas cariocas integram a seleção brasileira adulta. Como você analisa o atual momento do judô fluminense?
NEY WILSON – O judô estadual vem apresentando um importante processo de renovação. Ao lado do Flávio Canto e da Daniela Polzin, bem mais experientes, temos o Hugo Pessanha e o João Gabriel Schlittler, representantes da nova geração, com possibilidades reais de serem os representantes brasileiros nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro e no Mundial de 2007. Também tivemos uma brilhante participação na seletiva para os Campeonatos Pan-Americanos Juvenil e Júnior. Apesar do pouco investimento por parte dos grandes clubes do Rio de Janeiro, em comparação a estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, a dedicação e o trabalho dos professores e principalmente a união dos judocas fluminenses têm contribuído para o crescimento da modalidade no estado.
Temos, ainda, o resultado da seletiva Sub´26, que definiu a equipe que representará o Brasil nos Jogos Sul-Americanos, com seis atletas do Rio de Janeiro, seis de São Paulo, trÊs do Rio Grande do Sul e um de Minas Gerais.
JUDÔ RIO – Em uma declaração na televisão, você disse que a expectativa é de que o Brasil possa conquistar 14 medalhas nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro. Em que está baseada a sua afirmação?
NEY WILSON – Nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, conquistamos 10 medalhas, sendo cinco de ouro. O judô foi a modalidade que conquistou o maior número de medalhas de ouro para o país. Portanto, em função do trabalho que vem sendo desenvolvido dentro desse novo projeto Pan 2007, acredito que a equipe chegue à competição preparada para superar a marca anterior. A possibilidade de chegarmos a 14 medalhas e aumentar o número de medalhas de ouro é real.
JUDÔ RIO – Em termos estruturais e técnicos, o que falta ao judô brasileiro?
NEY WILSON – Em termos estruturais, estamos aprendendo muito com a realização de grandes eventos no país, embora ainda possamos evoluir bastante até o Campeonato Mundial de 2007, conquistando a experiência necessária para não deixar falhas. Tecnicamente, o judô brasileiro fez escola, sendo reconhecido internacionalmente. Hoje, temos atraído judocas das principais potências do esporte para treinamento em nosso país. Na seleção, contamos com o apoio de profissionais das mais diferentes áreas, entre médicos, preparadores físicos, fisioterapeutas, psicólogos e nutricionistas. Tudo isso, somado à adaptação dos judocas às necessidades da mídia, vem contribuindo muito para a maturidade das equipes masculina e feminina.